domingo, 17 de julho de 2011

Metade

Oswaldo Montenegro
Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Jovem acerta 100% após o tratamento

Grupo de estudiosos da UFMG atende pessoas e investiga as raízes genéticas da discalculia

11 de julho de 2011 | 0h 00

Alexandre Gonçalves - O Estado de S.Paulo
Na semana passada, Jessica Silva, de 14 anos, foi à sua última sessão de acompanhamento com a psicóloga Annelise Júlio, do Laboratório de Neuropsicologia do Desenvolvimento (LND) da UFMG. Faria um conjunto de exercícios de matemática para avaliar a efetividade das intervenções. Annelise fez questão de tranquilizá-la: "Calma, você consegue."
Washington Alves/Light Press
Washington Alves/Light Press
Cálculo. Jéssica (esq.) foi bem em teste após a ajuda de Annelise, que estuda o problema
De fato, a garota acertou tudo. Como esperado de alguém com um quociente intelectual igual a 120, valor que não deixa dúvidas sobre a inteligência de Jessica. Quando começaram as intervenções, no entanto, seu rendimento estava bem abaixo do de uma adolescente da sua idade.
Ela tem transtorno de ansiedade matemática. Diante de números e contas, sofre um bloqueio que impede qualquer avanço. Como a discalculia do desenvolvimento, o transtorno dificulta muito o aprendizado.
A unidade da UFMG que auxiliou Jessica pretende identificar as raízes genéticas da discalculia. Estudos já encontraram a causa da doença no mau funcionamento de determinados circuitos cerebrais - especialmente no sulco intraparietal.
O consumo de álcool na gravidez ou o parto prematuro podem explicar os erros no desenvolvimento neuronal que causam a discalculia do desenvolvimento. Contudo, fatores hereditários permanecem como a principal causa do transtorno. Algumas síndromes genéticas bem definidas, como a síndrome de Turner, são classicamente associadas a um baixo desempenho matemático.
"Mas, na maioria dos casos, a discalculia é uma herança relacionada a vários genes e associada a fatores ambientais", explica Vitor Haase, do LND. Ele coordena o projeto que busca as raízes genéticas da discalculia.
Com a permissão de escolas e pais, o grupo de pesquisa de Haase aplica testes em crianças e adolescentes para identificar quem tem dificuldade em matemática, apesar de não apresentar deficiência intelectual ou problemas sensoriais e motores.
Os pais das crianças que tiveram baixo desempenho são convidados a conhecer o projeto. Se quiserem, podem autorizar a realização de um exame neuropsicológico e a coleta de DNA dos filhos - obtido da saliva. Recebem, em troca, um relatório e sessões de aconselhamento.
Com o auxílio da pesquisadora Maria Raquel Santos Carvalho, do Laboratório de Genética Humana e Médica da UFMG, Haase investiga o DNA em busca de mutações. Olha principalmente para cromossomos relacionados a outras síndromes associadas ao baixo desempenho em matemática.