sábado, 22 de março de 2008

Militância enfraqueceu estudantes


Em 1968, o Brasil tinha quase 300 mil alunos no ensino superior, mas o movimento estudantil promovia manifestações do porte da passeata dos cem mil, no Rio. Em 2008 o país tem quase 5 milhões de universitários, mas os protestos de rua praticamente desapareceram. O que explica esse paradoxo?

Na opinião do historiador Renato Cancian, da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), o movimento estudantil sofreu uma inflexão nos anos 70, quando passou a ser liderado por militantes das organizações de esquerda que priorizavam as reivindicações políticas em detrimento das demandas educacionais. Essa subordinação à agenda política conduziu aos protestos de 1977 em defesa das liberdades democráticas, mas provocou um longo refluxo, que persiste até hoje, em razão do distanciamento da maioria dos alunos.

Ocorre então uma subordinação completa da militância estudantil à militância política: "Na década de 60 isso não acontecia. Já na década de 70, as lideranças tachavam esse pessoal que se preocupava com questões educacionais de ignorantes políticos. O que acontece com o movimento estudantil hoje? O aparelhamento dessas organizações continuou. Aí o movimento perde importância relativa. Hoje as lideranças da UNE não sabem lidar com questões educacionais: estão tão voltadas para a política que esquecem delas".

"Essa partidarização continua até hoje. Só que isso tem uma conseqüência: você deixa o estudantado de lado e vai mobilizar de acordo com o interesse desses militantes políticos. Eles nem sabem o que está acontecendo com as universidades", explica Cancian.

Essa partidarização ainda pesa muito: "Quais são as propostas do movimento estudantil hoje? Às lideranças, perguntei qual era o objetivo de militar no movimento. A resposta de todas: ampliar influência, cooptar militantes e construir um partido, uma organização nacional. É certo que havia pessoas contrárias. Mas quem quisesse entrar precisava ter um posicionamento político".


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